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Ingênua narrativa de um homem que dormiu demais

por José D’Assunção Barros (Universidade Rural do Rio de Janeiro)

… Só fui acordar vinte anos depois. O Despertador tinha me traído — descaradamente! Tinha sido preparado para berrar às sete do dia seguinte, mas resolveu permanecer calado durante aquele “quinto” de século. Por fim, reuniu todas as suas forças de máquina em um berro cínico, como se quisesse deixar bem claro que ninguém podia com ele. Doutores, jamais conheci máquina tão safada, capaz de tamanha desfaçatez! Não é que o miserável, mero despertador comprado em armarinho de segunda classe, tinha tapeado as próprias engrenagens e a mecânica do meu sono? Quando me espreguicei. Quando percebi na folhinha da parede que o mundo já estava quase virando o século! Tive vontade de atirá-lo (o relógio) contra o chão. Não atirei. Seus ponteiros permaneceram, zombando de mim e do tempo.

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