UNIVERSIDADE FEDERAL DE BAHIA
FACULDADE DE DIREITO
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
OFICINA CINEMA-HISTÓRIA
Grupo de Pesquisa do PROJETO Sonhos de Liberdade
CINEMATÓGRAFO SONHOS DE LIBERDADE
REPRESENTAÇÕES IMAGÉTICAS DO TOTALITARISMO ESTALINISTA E NAZISTA
Local: Sala da Congregação da Faculdade de Direito da UFBA
Coordenador Professor Dr. Jorge Nóvoa
Pesquisadoras: Diana Reis, Vanessa Marques, Caroline Nilo, Ximena Araújo e Rafael Cavalcanti
Mesa de Abertura: Professor Júlio Rocha (Vice-Diretor da Faculdade de Direito da UFBA) e Professor Jorge Nóvoa
Exibição e debate dos Filmes A Confissão (Costa Gavras, 1970) e Danúbio-Êxodos (Peter Forgács, 1998)
Conferencista: Professor Kristian Feigelson (Universidade de Paris – Sorbonne)
Nazismo e estalinismo no cinema
No século XX dois sistemas totalitários, o “nazista” e o “estalinista”, ainda que ideologicamente opostos, determinaram grande parte da história do século XX. Como poderiam ser representados pelo cinema? Os mecanismos dos sistemas totalitários levaram muitos a compreender a fragilidade da liberdade das pessoas confrontadas com a RAZÃO DE ESTADO, porém continuam a ser difíceis de traduzir em um nível cinematográfico. Ambos os regimes se serviram do cinema para se fazerem representar. Mas, em última análise, a partir de seus desabamentos, o cinema de ficção, assim como documentário, tenta desafiar as dificuldades de representa-los. Apesar delas, dois filmes emblemáticos (um de ficção e outro feito a partir de arquivos documentais) serão apresentados durante as atividades porque se centram na questão da lei e das liberdades públicas a partir de fatos reais que ocorreram na Tchecoslováquia. A confissão, filme de 1970 realizado por Costa-Gavras, trata de processo e julgamento em Praga em 1950. Já o filme Danúbio – Êxodos, de 2000, realizado por Peter Forgács, trata do exílio forçado dos judeus e alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Os dois farão retrospectivamente eco a dois filmes anteriores, documentários de propaganda, um produzido na URSS em 1927 que é o primeiro feito sobre o Gulag das Ilhas Solovski campo de trabalho estalinista, e o outro sobre o campo nazista de Therensienstadt. Este último, produzido em 1944, se refere ao exílio da deportação de judeus. Trata-se, pois, de observar como filmes históricos (ou políticos) de naturezas diferentes (ficção, documentários ou filmes de propaganda …) pode nos ajudar a desvendar história e compreender suas diferentes facetas.
Professor Dr. Kristian Feigelson, é sociólogo e historiador da Universidade de Paris Sorbonne (do Departamento de Cinema e do IRCAV), e autor de inúmeros artigos e vários livros, achando-se agora pesquisando, dentre outras coisas, a cultura de massa brasileira com o projeto intitulado Os territórios da imagem no Brasil. O debate será animado pelo Professor Dr. Jorge Nóvoa (sociólogo, historiador e epistemólogo), ambos coautores do livro Cinematógrafo. Um olhar sobre história, São Paulo, Ed. UNESP/EDUFBA, São Paulo, 2009.
Dia 11 de janeiro, às 16h30
A CONFISSÃO, filme de Costa Gavras de 1970, baseado no romance de Arthur London (autobiográfico e realizado a partir de fatos reais), o filme narra a história de Anton Ludvik, membro do Partido Comunista Tcheco-eslovaco e vice-ministro das Relações Exteriores, que após ser seguido por desconhecidos é preso sem justificativa. Torturado psicológica e fisicamente, ele é, aos poucos, informado de que está sendo acusado de espionagem e de atentar contra o Estado. Anton, um político fiel ao governo, vê-se forçado a se declarar traidor e a confessar crimes que não cometeu. O filme retrata a contradição entre as sociedades ditas democráticas e a repressão às críticas a suas ideologias, revelando-se assim, ditaduras totalitárias.
Serão analisadas também imagens do filme Solovkis de 1927 pelo Professor Feigelson. (www.youtube.com/watch?v=HSiomANScCA). Este filme de propaganda de 90 minutos de chamado SLON foi realizado em 1927 por Tcherkasov nas ilhas Solovkis, para mostrar a vida dos primeiros presos do Gulag. Cerca de 80.000 pessoas foram presas em 1923, em 1938, neste acampamento localizado a cerca de 150 km do Pólo Norte neste arquipélago de ilhas do Mar Branco. Metade dessas pessoas morreram no acampamento. Ele prefigura todo sistema concentracionário soviético. Esta análise será completada pela leitura de imagens do filme de Chris Marker On vous parle de Prague (Falamos de Praga https://vimeo.com/61494518) e uma montagem com trechos de filmes de arquivos e ficcionais estudando a Figuras de Stálin (2003) do próprio Kristian Feigelson.
Dia 12 de janeiro, às 18 h
O Danúbio – Êxodos, filme de 60 minutos de Peter Forgács de 1998, todo feito em filmes da época realizado por amadores, procura reconstruir através do diário de viagem o êxodo dos judeus da Eslováquia pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Em dois barcos, um grupo de 900 judeus eslovacos e austríacos tenta alcançar o Mar Negro pelo rio Danúbio, e de lá seguir para a Palestina. Como base para esse documentário, um dos documentos mais importantes usados por Forgács foi aquele do cineasta amador Nándor Andrásovits, capitão de um dos barcos. Andrásovits filmou seus passageiros enquanto eles rezavam, dormiam e até mesmo se casavam. No final da jornada, fica claro que o barco não retornará vazio: um êxodo às avessas acontece: desta vez para repatriar alemães bessarábicos fugindo da invasão soviética da Bessarábia para uma Alemanha que os havia enviado colonizar aquelas terras como se fossem soldados voluntários. Ao fugirem de lá, da invasão soviética, e ao retornarem à pátria alemã, estarão vulneráveis às “novas” leis nazistas que os considerarão “desertores”.
Serão também analisadas algumas imagens do filme-documento Theresienstadt (www.youtube.com/watch?v=PYvuJ4xhftI) de 1944, pelo Professor Feigelson. Também conhecido como O Fuhrer dá uma cidade para os judeus, é um filme de propaganda nazista em preto e branco, mudo, realizado em 1944 por Kurt Gerron atendendo ordens das autoridades nazistas e concluída em 1945 por Karel Pe?ený. Considerado como “o cúmulo do cinismo, da manipulação e o exemplo mais perniciosa do cinema nazista”, é o segundo filme nacional-socialista, e mais “notável” do ponto de vista da elaboração que pretendia mostrar para as autoridades da Cruz Vermelha Internacional que as pessoas que lá se encontravam eram felizes e viviam bem. Foi na verdade um campo de concentração, o único que os nazistas decidiram “embelezar”. É também o único mudo (com algum tratamento sonoro) existente sobre os campos de concentração nazistas, ele passou a ser chamado de Hollywood Campo Concentração. O filme inteiro é considerado perdido na sua versão integral, chegando até nós apenas fragmentos.