A cegueira. Uma outra história do nosso mundo de Marc Ferro

Com 90 anos, fazendo hemodiálise três vezes por semana, Ferro consegue lançar dois livros por ano e escreve três ou mais. Com L’Aveuglement. Une autre histoire de notre monde, livro de 430 páginas, ele se interroga sobre as dificuldades de compreensão das Guerras e Revoluções do Século XX, da Queda do Leste Europeu, do 11 de setembro, com uma lucidez que a experiência prática da vida lhe deu e que foi lapidada por muita reflexão. Ele ainda hoje causa inveja, incomoda muita gente, mas tem uma enorme legião de admiradores, além dos próprios estudantes. Inteligência inquieta e charmosa, Ferro que participou com 16 anos da resistência francesa, teve a mãe judia-francesa morta na câmara de gás nazista e filho de pai italiano.

Com uma capacidade fora do comum de trabalho, ele sempre uniu a narrativa historiográfica e sociológica, a uma quantidade grande de informações recolhidas nos documentos primários. Mas além disso tudo, ele tem uma memória prodigiosa: conta, sem olhar anotações, tudo sobre o qual escreveu ou viveu ou ouviu. Marc Ferro é ele mesmo, um fenômeno histórico. Esteve à frente durante 12 anos, no Canal de televisão 7 e ART, do Programa Histórias paralelas. Convidado pela Oficina Cinema-História, esteve em Salvador em 1996 no Simpósio Internacional sobre a Guerra de Espanha quando também estiveram outros grandes historiadores, como Pierre Broué, Rafael d’Espanha e José Carlos Sebe. Ele fez também, a nosso convite, a abertura do Simpósio da ANPUH em João Pessoa na Paraíba, em 2001. Ele fez o Prefácio de nosso livro Cinematógrafo. Um olhar sobre a história, assim como aquele de Olhares sensíveis. A beleza das cidades e suas barbáries que se acha no prelo. Ex- alunos dele e novos pesquisadores estão organizando um número especial da Revista Théorème sobre sua vida e sua obra.