Nunca soube quem ele foi, o que fez ou por que a minha rua leva o seu nome.
O barro era a nossa calçada; nosso campo de futebol e o palco de sonhos. Até que chegou o senhor Paulo Câmara e do barro o asfalto fez brotar. Lá embaixo estão as lembranças de quem menina foi; de jogadora de futebol a polícia que prende ladrão. Quantas brincadeiras não foram interrompidas porque chegou polícia de verdade prendendo ladrão? E ladrão era aquele menino que comprava picolé lá em casa.
Na rua do senhor Álvaro, com seus becos e esconderijos, eu andei de bicicleta e até uma velha senhora consegui atropelar. Eu aprendi a ser malandra no pique esconde e a resolver os problemas de quem poderia ou não brincar. Dos amigos de infância restaram-me apenas boas lembranças. Hoje somos jovens que nem se falam mais. Muitos já morreram; levados por uma sereia que canta, encanta, mas a morte faz chegar.
Se antes imaginava o senhor Álvaro atormentado pelos gritos de pega ladrão, pelas corridas de bicicletas e pelas mães chamando seus filhos, hoje eu o imagino entediado com o silêncio e indiferença em uma rua que hoje tem asfalto, tem luz mas está imersa no vazio e escuridão.
Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Para o meu
Para o meu amor passar.
Por Gabriele Silva