Ainda hoje muita gente no Brasil e no exterior defende com muita ênfase a importância da Operação Lava Jato no combate à corrupção no Brasil. Não raro, até hoje na intelectualidade, de esquerda inclusive, é possível observar defensores de sua ação. Todavia, como todo processo social, é muito difícil enxergar com clareza sua verdadeira natureza no imediato de seu acontecimento. A Operação Lava Jato não foge ao caso! Por isso vale a pena assistir o vídeo sobre os efeitos destrutivos da Operação Lava Jato na economia e no tecido social brasileiro. Curiosamente, a maior parte das imagens provém da Globo, assim como dos grandes jornais, como o Estadão e a Folha de São Paulo. O que muda é a forma como os dados são olhados quando confrontados com outros. O prejuízo anotado há alguns meses de 170 bilhões confrontado com o que supostamente a Lava Jato “devolveu” aos cofres públicos (que não chegam aos 10 bilhões) precisa pois, ser analisado.
Não se deve simplesmente “engolir” a nova leitura que nos é apresentada por este vídeo, como de resto, de qualquer outra fonte. É preciso verificar avaliando os argumentos e o dados em apoio a eles. Por exemplo, é verdade que em 2014 o desempenho da economia brasileira começou a decair e o fez aceleradamente. Houve um grande impacto da Lava Jato e de diversos fatores nacionais, mas também aqueles relativos à crise internacional já estavam se fazendo sentir na economia brasileira. Aliás, este é um argumento que serve muito para contestar a acusação de que a negatividade do desempenho da economia a partir de então foi de responsabilidade exclusiva de Dilma Rousseff. A estrutura na qual está montada a maior parte da economia brasileira torna ela bastante vulnerável aos impactos externos. Entretanto, reconhecer isto não impede de reconhecer também a forma como a Odebrecht foi visada, pela posição estratégica, não somente na produção nacional (que não é só na construção civil, mas na indústria militar, na construção do submarino nuclear brasileiro, na construção naval, no agronegócio, na metalurgia, etc.), mas também na produção e economia internacional na África, no Oriente Médio, na Europa, mas também nos EUA.
Uma coisa este vídeo coloca de modo correto do ponto de vista daqueles que conseguem ver longa vida para um sistema que está se debatendo nas próprias contradições: quando o nazismo foi desmantelado, os governos sucessivos alemães encontraram forma de preservar suas indústrias mais fortes e seus empregos. Outro aspecto importante que o vídeo questiona é o porquê de, em nome da luta “anticorrupção”, se colocar uma empresa como a Odebrecht de joelhos, quando as empresas chinesas do ramos “são tão ou mais corruptas que as empresas nacionais” concorrendo com ela na África, por exemplo? É necessário se perguntar, por conseguinte, sobre a lógica que presidiu e vem presidindo a “Operação Mãos Limpas” no Brasil. De qualquer modo não há como negar que o impeachment de Dilma Rousseff foi um sério golpe no projeto do BRICS e que a nova administração do país não encontrará a mesma audiência que o governo anterior, haja vista a forma como o Presidente Michel Temer foi tratado pela diplomacia chinesa e russa, sobretudo. A frieza e a desconfiança do referido tratamento, leva à crer que o Brasil, seus governos e sua economia, são peças-chave no tabuleiro da geopolítica mundial, o que de fato é verdadeiro que não seja pela posição geográfica que ocupa, assim como pelas riquezas conhecidas e potenciais que o seu território abriga!
O novo filme de Oliver Stone (Snowden, de traidor a herói) parece que ajudará a entender o que significa a luta por hegemonizar espaços no mundo. Nos quadros dessas disputas na qual reaparece constantemente a chantagem de uma III Guerra Mundial, muito pouco do que acontece nos espaços “nacionais” dizem respeito apenas ao país em causa. O mais impressionante é que tais fatos não conseguem ainda, de modo permanente, mobilizar uma grande quantidade de consciências na construção de uma via que não seja a do negócio e a da política ligada a ele. Há muito tempo as vidas valem muito menos que os negócios. Time is money é um bordão que emana dessas relações sociais, econômicas e políticas com tanta força de tal sorte que parece que a história da humanidade, particularmente no último século, funciona de modo automático sem que ninguém seja capaz, senão de puxar o freio de mão, de pelo menos, girar o volante para algum desvio do caminho que nos leva à todos ao despenhadeiro. Talvez nem tudo seja desesperança. Michael Moore – que previu a vitória de Donald Trump (leia o texto n´O Olho), por exemplo, acha que “nem tudo está perdido. Hillary Clinton é ainda mais à direita que Obama, casamentos gays são permitidos, fumantes de maconha não serão mais perseguidos em alguns estados como a Califórnia, nem seus distribuidores e a maioria da população americana é liberal”. Só que, no interior do arco dos liberais, Marine Le Pen e o Presidente da Ucrânia querem ter lugar não só de voz, mas de ação, e do mesmo jeito saudaram a eleição de Trump, tanto quanto Putin! Ou seja, a responsabilidade da “liberal democrata” Hillary Clinton no Oriente Médio e Síria, terminaram pesando na escolha dos americanos “liberais”, tanto quanto as promessas de reconstrução das indústrias nos estados que rodeiam os Grandes Lagos, colocando a parte dos eleitores que Trump conseguiu fazer mudar de “opinião” e votar nele, ir até a urna, quando já não acreditava mais em nada.
De qualquer modo é importante assinalar que as semelhanças dos processos políticos em curso em várias partes do mundo parece certificar-nos que a unidade empreendida pelo capital ao mercado mundial e à economia mundial, homogeneizou, ao mesmo tempo, as medidas assimiladas como antídoto para a crise, assim como as consequências negativas para as conquistas democráticas que pareciam irreversíveis até bem pouco tempo em boa parte dos quatro cantos do planeta.
O Olho da História Laboratório de Reflexão Transdisciplinar